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Maria Marão

Sobre síndromes e curas


(foto: Maria Marão)

Semana passada, lancei meu primeiro livro, 'Síndromes'. Eu poderia passar muitos textos falando sobre como foi a experiência, mas nada descreveria melhor do que o e-mail que recebi de uma leitora-escritora. Ela me contou a história de sua vida citando vários trechos de 'Síndromes'.

Se você não leu o livro, não tem problema. Maria leu e destacou algumas partes lindas, que seguem em itálico.

Bom dia, Thainá

Vim ler seu livro aqui no lago. Eu moro no meio do mato, sabe?

A internet é por rádio, delivery quase não tem, muitos kms até a cidade. Às vezes, chegando em casa, lembro que esqueci o pão e xingo baixinho - é que meu marido aprendeu a fazer pão em casa. Em tempos de quarentena, contudo, posso sair um pouquinho sem colocar ninguém em risco; apenas insetos e alguns esquilinhos me fazem companhia ... A mim, a paz dos caminhos pouco trilhados, onde o tempo lagarteia ...

Seu livro confirma meu caminho, minha escolha, a escolha que fiz há algum tempo, quando meu mundo era opaco, marcado por cartão de ponto num escritório amarelado; quando eu era quase gente zumbi. Eu gostava, sim, do que fazia, mas quando encontrava alguém de olhos tristes, reconhecia o eco deles em mim e me pegava divagando ... E se eu pudesse escrever todas as palavras que existem em você? ...

Eu queria descobrir o que tinha lá fora, sabia que tinha muita coisa bacana, muita coisa linda, gente empolgada, colorida, gente vivente. Tanta hesitação, demorei anos. Saí. ...É preciso ter sangue frio para gritar foda-se. Eu sou liberdade...

Hoje, tenho muito menos grana e muito mais pulsar ...chorar em plena luz do dia é melhor

que morrer no escuro... mas achei a tal gente colorida, que pulsa, que vibra. Achei Maria Vitoria, achei Thainá, achei tantas outras, gente que é nome e qualidade, gente que sozinha já é um puta adjetivo.

A idade já me chega, mas agora sou eu, no meu tempo e, ainda que tardio, ele me faz sentido ...Só os mais velhos possuem o tempo do tempo deles...

Sou eu.

E achei Síndromes.

Você é para ser citada em roda de conversa, no meio de uma frase, numa discussão acalorada ou numa conversa ao pé de ouvido, como quem cita Saramago, García Marquez, como quem cita Susan Sontag.

E aqui, sentada na grama, na frente desse lago, duma água que hoje não balança, sei que "Eu sou finita. Essa é a verdade. O resto é filosofia" e já vou me despedindo. Obrigada por esses momentos de puro deleite.

...Mas, antes do fim, dancemos, que meu corpo canta minha vida. E esse é o elogio derradeiro da alma que parte…..

Parti.

Com muita admiração,

Maria Marão

P.S. Aqui não tem muros, como pode ver. Não os tenho, não posso ajudar no teu sonho

de "palavras escritas em todos os muros do mundo", mas , no meio do mato, eu falo

sozinha, e cito você.

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