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  • Thainá Carvalho

Um mar para chamar de meu


Flor de sal

(Foto: Carlos Figueiredo)

Fazem exatos 90 dias que não molho meus pés nas águas do mar. Apesar de morar em uma cidade litorânea, pertenço ao grupo de risco, assim como meus parceiros de quarentena. Penso em todas as pessoas que insistem em ir à praia nesses tempos de isolamento social tão necessário e as ondas me parecem um luxo.

Quando recebi o livro Flor de Sal, escrito por Mell Renault e publicado esse ano pela Editora Penalux, senti uma gratidão imensa pelo mar enviado. A obra, composta por 49 poesias, é uma declaração de amor ao oceano e exibe todas as suas belezas, desde a “memória da água” (poema Vestígios), passando pelo seu “pássaro de espuma” (Nascente) até o “deserto de sal” (Ondina). Cito essas expressões específicas para mostrar a força das metáforas da escritora, que criam um mar para cada leitor. O meu faz-se de saudades, onde “há um silêncio / de mil âncoras / afundadas / e esquecidas.” (Beira-mar).

Esse mundo azul foi tema para a poesia desde séculos imemoriáveis – os portugueses que o digam. Junto com Camões e Sophia de Mello Breyner, Mell Renault entra no coro de vozes que cantam o mar, mas não se preocupe: o lirismo das poesias de Flor de Sal não é óbvio e os versos não são esperados. Leia tranquilo e garanto que uma brisa de água salgada vai te surpreender entre as quatro paredes da sua sala. Claro que sou parcial para falar, afinal já fiz uma resenha elogiosa de outro livro da escritora, Patuá. Enquanto as poesias deste mostram um alter-ego que pisa firme sobre a terra ainda verde, a poeta de Flor de Sal se deixa levar pelas ondas, com o coração “essa secreta ilha / carregada / pela água primitiva” (Atol).

Percebi, em Flor de Sal, que Mell Renault escreveu um sentir-saber do mar, esse “sangue memoriado / de azul / tempo suspenso / proas / naus / silêncios a banhar o mundo” (Anil). Soube e senti em cada verso a intimidade da escritora com todas as gotas de água salgada que existem no mundo. Li cada página com saudades dos dias futuros em que mergulharei nas ondas para ser o oceano que Mell me deu.

 

Você pode adquirir o livro diretamente com a escritora aqui ou no site da editora Penalux

 

Mell Renault é escritora e dramaturga. Mineira de BH, tem 35 anos e manteve o blog Pensamento Polaroid, que se tornou um fanzine de incentivo à leitura, sendo conhecido no Brasil e no exterior como o único fanzine literário no mundo com um trabalho completamente manual - desde a capa até os textos. Já publicou nas revistas Alagunas, Mallarmargens, Diversos Afins e é colaboradora da revista InComunidade (Portugal). Lançou em 2019 seu livro de poema Patuá (Coralina) e agora em 2020 lança o Flor de Sal (Penalux).

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