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O balanço definhava com a memória. Da janela da casa, ela olhava para o silêncio das folhas caídas. Como era mesmo a canção que a balançava naquele galho de árvore? Constância, meu bem, constância. O nome da bisa, a personalidade da mãe, os cabelos do pai. Constante sempre serei. Quem era ela se não esses outros que deixaram de ser? Constante até a morte. O que viver além da solidão do sítio já desprovido de família? Constante eu morrerei.

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A porta mal escondia o que ia ali dentro. O pai relapso, a mãe tentando cobrir os cantos com detalhes sem importância, o filho mais velho alcoólatra e o do meio qual? Só a caçula tinha coisas boas a contar para os ursinhos, enquanto a empregada trançava-lhe os cabelos compridos sob a luz do entardecer. Funcionavam, as duas. Uma família à parte com suas próprias cantigas. A mãe de fato a pentear cada fio que sai da filha que é tão sua, tão ser. Mas agora está bom, que é hora de merendar.

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Encontraram-se na sala de embarque. Não se viam há seis anos, quando haviam terminado o noivado. No voo, conversaram sem ressentimentos, beijaram-se sem memórias. No destino final, já não havia mais compromissos. Os dois passaram os dias de olhares dados e mãos apaixonadas. Amaram-se entre quatro paredes, como se nada pudesse ser perdido, mesmo ela usando aliança e ele ligando para a esposa todas as noites.

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