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  • Thainá Carvalho

A quarentena gerou pessoas ansiosas, com o coração batendo a mil preso entre quatro paredes (os que podem). Seja para distrair ou para fazer refletir, a literatura se faz não apenas necessária, como também acessível em tempos de pandemia. Confira algumas obras que estão sendo disponibilizadas gratuitamente.

 

Na Boca do Dragão da América Latina - Ma Njanu

Essa zine contém uma das mais incríveis poesias de amor que eu já li em toda a minha vida. Sério mesmo, apesar de essa não ser uma obra romântica. Os textos de Ma são complexos e abrangem os mais variados sentimentos humanos, desde o pesar pela morte de um ente querido até questões ambientais envolvendo seringalistas. Você pode baixar aqui e, para olhos cansados, ouça a zine aqui.

 

Cartas Avulsas - Bárbara Seidel

“Espero que goste e te afague um pouco nesses tempos de quarentena”. Foi com essa mensagem de e-mail que recebi o livro Cartas Avulsas. Bárbara também pede desculpas pela diagramação não estar exatamente como ela queria, mas justifica: “em tempos urgentes abri mão de alguns detalhes.” As poesias são curtas e cheias de significado. Posso passar muito bem sem um design elaborado para ler alguns trechos incríveis sobre a própria vida que parece nos faltar. Se você também pode, baixe aqui.

 

Três Camadas adentro - Beatriz Helena

Sou parcial para falar. Além de ter me ligado a Beatriz de forma especial por meio do Coletivo URBANAs, atuei como revisora desse que é o seu primeiro livro. Verdade seja dita, tive muito pouco trabalho para revisar uma obra que já chegou pronta, com os versos mais lindos. A escritora divide suas poesias em três partes que falam sobre uma humanidade social, mundana e idêntica. De cara, Beatriz já faz um apelo ao ‘fogo do peito aceso’ : “que não se apague / com batidas de pano / com batidas de papo”. Você pode baixar o livro aqui

 

Tenho 3 dicas boas também:

1) O instragam @independentedetudo envia semanalmente livros gratuitos para o seu e-mail. É só se inscrever no link disponibilizado no perfil deles.

2) No twitter, o Resistência Afroliterária está sempre avisando sobre ofertas e livros gratuitos

3) E não vamos esquecer das newsletters, especialmente para quem não tem tempo ou não está com cabeça para leituras mais longas. Recomendo:

---> A Estranhamente, de Maria Vitoria

---> Niquesletter de Monique Malcher

----> Uma Newsletter, de Aline Valek

----> Coletivo URBANAs (porque preciso autoindicar o coletivo do qual faço parte, claro)

Lendo ou não, fiquem bem 💜

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  • Thainá Carvalho

(colagem: Thainá Carvalho)

Venho me arrastando há semanas em um livro de Clarice Lispector. Claro que eu gosto de Clarice (e se eu não gostasse, não ousaria dizê-lo), mas, às vezes, o tal alto nível me cansa.

Por despeito, comecei a ler O Parque dos Dinossauros no último fim de semana. Digo por despeito porque me ofendi com esse diálogo.

Meu marido: diga um livro pra eu ler

Eu: leia o parque dos dinossauros

Meu marido: eu não, livro besta.

Eu: NÃO EXISTE ISSO DE LIVRO BESTA. A ACADEMIA INVENTOU ISSO PRA DESLEGITIMAR MUITAS OBRAS POPULARES QUE ADQUIRIRAM SUCESSO. ESSE LIVRO É UM CLÁSSICO POR UM MOTIVO. NÃO SEJA METIDO (fui bem menos eloquente e gritei muito mais).

Meu marido: apenas diga um livro pra eu ler

Eu: Antônio Prata (era um livro besta)

Fato é que li o livro inteiro em 2 dias, e ainda assisti aos dois primeiros filmes com meu marido, que deixou de ver a última temporada de A Casa de Papel para me acompanhar. E quem pode me culpar por perder completamente o foco produtivo devido a dinossauros? Certamente não Clarice. Ela mesma afirmou, em crônica, que “ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que, agora, já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura.”

Também despudorada, digo que tudo que o que eu quero no final de um dia estressante é Miranda Priesley descendo o cacete em Anne Hathaway ou um jovem Heath Ledger cantando Can’t take my eyes off of you enquanto folheio gibis da Turma da Mônica. Com certeza comeria um miojo nesse meio, mas isso é muito Gilmore Girls/anos 2000 e aquela torta-de-batata-doce-fit-com-leite-de-castanha é tão melhor para a minha imunidade (no fundo, ou não tão no fundo assim, minhas estrias precisam de gororoba norte-americana).

De qualquer forma, se me perguntarem o que estou fazendo nessa quarentena, direi que estou revisitando clássicos de Spilberg.

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  • Maria Marão

(foto: Maria Marão)

Semana passada, lancei meu primeiro livro, 'Síndromes'. Eu poderia passar muitos textos falando sobre como foi a experiência, mas nada descreveria melhor do que o e-mail que recebi de uma leitora-escritora. Ela me contou a história de sua vida citando vários trechos de 'Síndromes'.

Se você não leu o livro, não tem problema. Maria leu e destacou algumas partes lindas, que seguem em itálico.

Bom dia, Thainá

Vim ler seu livro aqui no lago. Eu moro no meio do mato, sabe?

A internet é por rádio, delivery quase não tem, muitos kms até a cidade. Às vezes, chegando em casa, lembro que esqueci o pão e xingo baixinho - é que meu marido aprendeu a fazer pão em casa. Em tempos de quarentena, contudo, posso sair um pouquinho sem colocar ninguém em risco; apenas insetos e alguns esquilinhos me fazem companhia ... A mim, a paz dos caminhos pouco trilhados, onde o tempo lagarteia ...

Seu livro confirma meu caminho, minha escolha, a escolha que fiz há algum tempo, quando meu mundo era opaco, marcado por cartão de ponto num escritório amarelado; quando eu era quase gente zumbi. Eu gostava, sim, do que fazia, mas quando encontrava alguém de olhos tristes, reconhecia o eco deles em mim e me pegava divagando ... E se eu pudesse escrever todas as palavras que existem em você? ...

Eu queria descobrir o que tinha lá fora, sabia que tinha muita coisa bacana, muita coisa linda, gente empolgada, colorida, gente vivente. Tanta hesitação, demorei anos. Saí. ...É preciso ter sangue frio para gritar foda-se. Eu sou liberdade...

Hoje, tenho muito menos grana e muito mais pulsar ...chorar em plena luz do dia é melhor

que morrer no escuro... mas achei a tal gente colorida, que pulsa, que vibra. Achei Maria Vitoria, achei Thainá, achei tantas outras, gente que é nome e qualidade, gente que sozinha já é um puta adjetivo.

A idade já me chega, mas agora sou eu, no meu tempo e, ainda que tardio, ele me faz sentido ...Só os mais velhos possuem o tempo do tempo deles...

Sou eu.

E achei Síndromes.

Você é para ser citada em roda de conversa, no meio de uma frase, numa discussão acalorada ou numa conversa ao pé de ouvido, como quem cita Saramago, García Marquez, como quem cita Susan Sontag.

E aqui, sentada na grama, na frente desse lago, duma água que hoje não balança, sei que "Eu sou finita. Essa é a verdade. O resto é filosofia" e já vou me despedindo. Obrigada por esses momentos de puro deleite.

...Mas, antes do fim, dancemos, que meu corpo canta minha vida. E esse é o elogio derradeiro da alma que parte…..

Parti.

Com muita admiração,

Maria Marão

P.S. Aqui não tem muros, como pode ver. Não os tenho, não posso ajudar no teu sonho

de "palavras escritas em todos os muros do mundo", mas , no meio do mato, eu falo

sozinha, e cito você.

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