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  • Thainá Carvalho

Ao que parece, é nossa hora


Carta enviada pelo amigo escritor Thiago Medeiros,

junto com um livro de Andrea Ferraz, presente tão necessário nesses tempos.

Pensei muito antes de escrever essa crônica. Não sabia bem como abordar esses tempos.

Considerei escrever algo leve para desanuviar, mas não leve demais porque, afinal, há pessoas sofrendo.

Depois comecei a desenvolver um texto sobre a pandemia em si, mas falar o que além de tudo o que já foi dito e calado?

Aliás, falar o que? Como? O que exatamente se espera de nós, escritores?

Há alguns dias, recebi uma carta do amigo escritor Thiago Medeiros, parte da ação Cartas de um lugar que não escolhi. Escrita em “14 de maio de um ano que não se deixou existir”, ela se desenha com carinho para a parte em que meu colega diz:

“Ainda assim, somos sobrados e cobradas para escrever. Escuto essa pergunta quase todos os dias. Tem escrito algo sobre isso que está acontecendo? Não sei bem o que o mundo vê em nós, escritores e escritoras. A romantização das nossas figuras. Homens e mulheres a postos sempre para engolir o mundo e devolvê-lo em lirismo, qualquer que seja ele”

A arte está sendo cobrada e vem se cobrando como o grande remédio para a sanidade mental das pessoas. Em tempos normais, somos apenas o escritor que vende o livro independente por um valor muito alto, ou o artista que deveria estar trabalhando ao invés de pintar quadros. Agora, de repente, temos que ser os bastiões da resistência – nossa e dos outros.

Recentemente, editei um texto da ilustradora Tamiles Doralício para a Revista Desvario. Ela menciona a produtividade forçada que precisamos apresentar, especialmente os artistas. Nós temos que aproveitar essa “janela de oportunidade”, esses olhos entediados que podem prestar atenção a alguma arte exibida em seus feeds. Nas redes sociais, a pressão é cruel. Agora é a hora de escrever cem laudas por dia, de destruir as costas pintando quadros no chão, de cegar-se desenvolvendo ilustrações no computador. Vamos! Temos que produzir, temos que curar a ansiedade, embelezar um mundo que morre, é nossa obrigação, é nossa hora, é nosso like.

Esquecemos que essa é apenas nossa hora de sobreviver. Mas como falar isso?

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