Eita que é putaria, safadeza e um pouco de amor
Sentiu que suas mãos eram muito grandes. Não conseguia pará-las. Na verdade, não queria.
- Você vai achar que eu sou...
É, se ela dissesse isso talvez ele compreendesse. Falava devagar, aos sussurros, entrecortando fios de saliva. Também não queria que outra pessoa escutasse. Estavam sentados no banco de uma praça qualquer. Parecia meio clássico, mas, na verdade, era necessário. Não tinham para onde ir. Hesitavam em se render aos letreiros luminosos das pousadas. Isso deixaria tudo artificial. Pena que ele não tinha carro.
Seu vestido subia um milímetro de cada vez. Seus dedos desciam cada vez mais sobre as calças dele. Ela não saberia explicar como tudo começou, desde que se encontraram pela primeira vez na semana passada. Uma semana. Pouco tempo para ela. Talvez, se tivessem conversado um pouco mais, se conhecido um pouco mais. Mas as mãos dele eram tão grandes.
Rafael. Adorava dizer o nome dele por inteiro, mesmo quando as pessoas insistiam em chamá-lo de Rafa. Quando ele beijava seu pescoço, ela o chamava de Rafael, como um suspiro abafado. Rafael, quando apertava sua cintura com mais força. Rafael, quando mordia seus lábios. Rafael, quando acariciava seus seios.
Já não abria os olhos, nem para se precaver contra um ou outro passante curioso. Sentia apenas a luz amarelada dos postes lambendo suas pálpebras cerradas e ele lambendo sua nuca. O perfume dele penetrava na sua pele. Um fio de cabelo se arrastava na sua língua, mas ela já não ligava. Os sentidos se misturavam cada vez mais, como uma massa moldada pelo simples toque dele. O frio na barriga era substituído por uma onda de calor que deixava sua garganta formigando. Às vezes, tinha pensamentos súbitos quaisquer e ficava com um temor inexplicável do momento. Mas era algo tão fugaz, tão passageiro... mal se percebia que era aquele velho hábito de ter medo, quebrado aos poucos pelos beijos de Rafael.
A noção de tempo cabia apenas no mínimo espaço vazio entre os dois. Seu corpo se debatia em uma vontade frenética de fazer parte do corpo dele, colando-se mais, tocando-se mais, unindo-se mais. Logo, não haveria mais nada. Não se lembrava onde estavam ou como foram parar ali, naquele instante sem origem e sem fim. Não ousava abrir os olhos ou falar, sequer respirar. Ele fazia tudo. Ele a inclinava aos poucos, puxando seu cabelo com brutalidade fingida, interrompendo beijos, fazendo-a buscá-los. Sua barba pinicava quando ele colava o rosto no seu, encaixando lábios, olhos, nariz e queixo.
Sentia que pertencia. Que seu hálito saía da boca dele, que suas coxas eram uma extensão do quadril dele, que seus movimentos eram comandados pela simples vontade de Rafael. Tudo estava mais rápido. Perdeu-se. Deixou-se estar em uma passividade plena, refreada apenas pelo desejo de que aquilo nunca terminasse. Um desejo súbito de rir e de chorar, de extravasar o que não conseguia mais guardar dentro de si. Conteve-se. Mas não pôde impedir que suas unhas cravassem as costas dele em um frêmito derradeiro de êxtase que pareceu durar para sempre.
Não demorou muito e ela respirava cansada. As mãos dele ainda afagavam, alisavam, apertavam, aqueciam. Subiam e desciam pelo contorno do seu corpo até que, subitamente, pararam em seus pés. O toque era hesitante, percorrendo-os vagarosamente do calcanhar à ponta dos dedos, como que medindo. Ela sentiu-se amedrontada, já arrependida por algo que não sabia que fizera ou era. Rafael beijou suavemente seus lábios e abaixou a cabeça, olhando para os seus pés. De repente, ele sussurrou uma conclusão:
- Seus pés são grandes.
Ela ficou sem graça. Ele sorriu.
- São lindos.
Ela deu uma gargalhada. Ele pegou na sua mão e os dois se levantaram. Foram caminhar pela praça e, só então, perceberam que o sol já nascia.