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Thainá Carvalho

Avaliou o silêncio deixado na casa pela partida dos filhos. Seco e incontornável, preto e branco. A companhia do marido equivalia à de uma almofada no sofá, talvez mais inútil. Ela própria sentia-se sem razão de ser. Via-se obrigada a aproveitar a liberdade de não ter grandes refeições a preparar, roupas para lavar, tarefas da escola para monitorar. Resolveu ligar para o filho. Chamou duas vezes, mas ele não atendeu. A filha também não. Já o celular do caçula parecia até estar desligado. Tentou mais uma vez, de novo e de novo, enquanto as lágrimas brotavam dos olhos.

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Thainá Carvalho

Contava os dias como quem pula ondas: jogando-se em câmera lenta nas partículas de luz. Espalhava-se pela rotina sem atentar muito para as horas que faltavam até a chegada dele. O retorno e a partida, mais uma vez. Estavam acostumados, mas o mundo não. Terminaram? Quando ele vem? Como vocês conseguem viver em cidades diferentes? Como quem se joga em uma mar de espuma mútua, onde as dúvidas respingam, mas não afundam. Havia planos de mãos dadas, sonhos de uma ponta a outra e passagens de avião. Nenhum dos dois realmente partia, quando um ficava sempre no outro.

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Thainá Carvalho

Imaginou que estava no céu. Que não tinha os pés cansados, e nem as manchas de suor na camisa formal emprestada. Pensou que a derrota seria mais leve, e as entrevistas menos humilhantes. Na faculdade, sonhara alto, mas acabou sendo puxada para baixo, sem vagas, sem oportunidades, sem retornos. Sempre, de novo e de novo, até que a vontade perdeu a força. Chorando sentada na calçada, imaginou que estava em qualquer outro lugar.

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